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Textos de Carlos Quevedo lidos diariamente pelo actor Vitor Emanuel na Antena Um, antes das sete da tarde.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador confia na nossa PJ para desvendar a agressão feita a um conhecido jornalista desportivo

O jornalista da SIC Rui Santos foi alvo de uma agressão feita por três homens encapuzados depois de acabado o seu programa Tempo Extra. O Correio da Manhã, com boas intenções claro está, fez um apanhado das declarações polémicas do jornalista naquela noite. Sobre Rui Costa disse: "Promoção apressada e prematura". Sem discutir a violência da afirmação, não vejo o Maestro a fazer justiça pelas próprias mãos. De Pinto da Costa: "Já não surpreende… como antigamente". Não acredito que o experimentado Presidente do FCP perdesse a cabeça por já não poder surpreender. Sobre o novo regime jurídico: "Silêncio dos clubes alimenta hipocrisia". Além de ser uma frase enigmática, isto para não dizer incompreensível, também não vejo os clubes ofenderem-se por tão pouco a ponto de mandarem mandar três matulões só para deixar de alimentar a hipocrisia. Por último, o imprudente Rui Santos afirmou: "O plantel do Futebol Clube do Porto está muito acima do Sporting e do Benfica". Esta declaração é de facto ofensiva e cruel. Mas como ficou demonstrado no domingo passado, ninguém imagina a gente do Benfica a fazer um trabalhinho que pode beneficiar ao Sporting nem a malta do Sporting fazer o mesmo pelos benfiquistas. Muito menos é de imaginar uma acção concertada entre os dois porque só beneficiaria o Porto. É, sem dúvidas, um caso bicudo. Para a nossa sorte. Contamos com Polícia Judiciária para desvendar este crime. Tenho a certeza de que desta vez os pais da Maddie não se safam. Fora isso, tudo bem.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador não percebe a animosidade contra as receitas médicas

O esforço do governo para simplificar a papelada e as deslocações a repartições estatais com a espera que isso implica parecem-me louváveis. Odeio participar nas bichas em geral. Nas longas em particular. Por isso sou um fã do Simplex em todas as suas formas e especialidades. Mas apelo ao governo para dar atenção a um pormenor que, segundo me parece, foi passado por alto. Falo das receitas dos médicos. Este pequeno papelinho tem uma importância fulcral nas nossas vidas. Ao que parece, as últimas regulamentações são impiedosas. Qualquer pormenor omitido, uma mínima coisinha rasurada ou uma data mal escrita são suficientes para que a nossa receitazinha vá recambiada para o local de origem. Podemos imaginar a angústia dos nossos compatriotas doentes obrigados a voltar a ver o médico. Ou nos casos dos pacientes impacientes mas com algum dinheiro, aqueles que são forçados a pagar os medicamentos na sua totalidade… Por amor de Deus! Desde que o mundo é mundo que os médicos se esforçam por ter a pior caligrafia do mundo. Só os nossos queridos farmacêuticos têm o curso completo de criptografia avançada, curso este que os habilitou a compreender os hieróglifos desenhados pelos médicos e nunca ninguém se queixou. O Simplex, como disse antes, é uma boa ideia. Mas, por exemplo: quantas empresas podem os portugueses fazer por dia? Quinhentas? Duas mil? Quantas receitas devem ser aviadas diariamente? Cinquenta mil? Oitenta mil? O que é que é mais urgente? Uma empresazinha que normalmente vai ir a falência dois anos depois ou um medicamento para o reumatismo que me anda a doer desde ontem? Convoquemos uma manifestação por sms para que as receitas fiquem no Simplex. Doentes unidos jamais serão doridos. Fora isso, tudo bem.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador pede ao maravilhoso povo de Sintra que se sacrifique pelo bem do País

Os famosos voos da CIA em que se transportavam prisioneiros desde o Afeganistão, o Iraque e outras regiões pacíficas e tolerantes do mundo, estão a tornar-se um problema complexo. Não porque tenham sido realizados com o conhecimento ou a ignorância dos países em que fizeram escala. Parece-me claro que todos sabiam. Não porque se tenham feito com autorização ou sem ela. Quando se está em guerra, há burocracias prescindíveis. Não. A complexidade do problema tem forma de mulher e o seu nome é a deputada pelo partido socialista no Parlamento Europeu, Ana Gomes. Todos conhecem esta senhora de modos doces e voz cristalina e atitude moderada. Estou a ser irónico, claro. Quem ouve as declarações desta deputada fica com os tímpanos desfeitos. Ana Gomes deve ser, entre os políticos, aquela que tem o recorde nacional de indignações por minuto. Quando Sampaio confirmou Santana Lopes, logo depois de Durão Barroso abandonar as suas funções de primeiro-ministro por outro emprego mais bem pago, Ana Gomes acusou o então Presidente de pôr a democracia em perigo. Agora com os tais voos da CIA, para não se zangar com Sócrates, desculpa-o afirmando que o homem está mal informado. Está a brincar: se há uma coisa de que não se pode acusar o primeiro-ministro é de não saber o que acontece a sua volta. Ana Gomes julga que o Partido Socialista está tentar "cilindrá-la", que até se ofereceram para a propor novamente como deputada no Parlamento Europeu caso decidisse calar-se. Sinceramente, julgo que o preço do seu silêncio é demasiado alto. No fim das suas últimas declarações deixa entrever a possibilidade de dedicar a sua energia no poder local. Particularmente em Sintra que onde reside. Acho bem. Peço aos sintrenses que se sacrifiquem pelo bem do País. Fora isso, tudo bem.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador acha que o Bloco de Esquerda fala só para as crianças

Toda a gente julga saber qual é a profissão mais velha do mundo. Mas é óbvio que antes que se profissionalizem as tais meninas, alguém deve ter ganho mais dinheiro do que todos os outros. Esse primeiro gestor com mais dinheiro deve ter sido o primeiro cliente da primeira menina que iniciou a tal profissão que se baptizou como a actividade lucrativa mais velha da história. Quero dizer com isto que o primeiro troglodita, que foi o primeiro cliente da primeira menina que inventou a profissão mais velha do mundo, ganhava mais que todos outros colegas trogloditas. Esta foi sem dúvida nenhuma a primeira desigualdade salarial registada nos primórdios da humanidade. E como naquela altura não havia carros nem cavernas com piscinas, deve também ter sido o primeiro sinal ostensivo de riqueza. Esta conclusão leva-nos a compreender que a desigualdade salarial é pelo menos umas horas mais velha que a profissão mais velha do mundo. Foi este pormenor que o Bloco de Esquerda não teve em conta na sua simpática exposição sobre os salários dos trabalhadores no Parlamento. A intervenção audiovisual que Francisco Louçã fez ontem na Assembleia da República foi simpática. Para ilustrar a diferencia salarial que existe entre um gestor e um operário, levou duas imagens. A do gestor era sensivelmente maior do que a imagem do operário, muito pequenina. Louçã explicou que era exactamente trinta vezes maior. Foi acusado de demagogia. Eu prefiro acusá-lo de pedagogia. Pedagogia é o ensino dado às crianças. Se Louçã quisesse realmente explicar a desigualdade salarial aos adultos, não teria sido tão infantil e podia mesmo ter escolhido uma imagem de desigualdade mais adulta. Por exemplo, mostrando quantos charutos cubanos (ou meninas brasileiras) um operário pode comprar com o seu salário e quantos charutos (ou meninas ucranianas) pode adquirir um gestor. Julgo que teria sido mais eloquente, mas sobretudo mais sério. Fora isto, tudo bem.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador identificou-se com a Câmara de Lisboa

Quando soube que o Tribunal de Contas tinha chumbado o empréstimo de 360 milhões de euros que a Câmara pediu a Caixa Geral de Depósitos, juro que me vieram as lágrimas aos olhos. De repente, descobri no Município um ser humano como eu. Cheio de fraquezas e de dívidas. Cheio de boas intenções mas com problemas de subsistência tão normais nos dias de hoje. Ó Câmara, a ti te falo! Eu compreendo-te, irmã. Também eu pedi um empréstimo ao banco e disseram-me que não. Eu também sofri a injustiça da incompreensão. A minha dívida, embora não tão grande como a tua, também não foi saldada por mim. Erros meus, má gestão, optimismo ardente… Igualmente disseram-me que não ia ter nunca dinheiro suficiente para pagar sequer os juros! Insensatos! Eles não sabem que os sonhos são uma constante da vida. Que a nossa crise é conjuntural, amaldiçoada pelo destino. Mas estruturalmente somos bons e saudáveis. Ó António Costa, como te percebo. Mas não sofras: tudo se há-de arranjar. Não desistas. A Caixa Geral vai ceder. A ti, profetizo que o Presidente promulgará brevemente a nova regulamentação da lei do saneamento financeiro das autarquias elaborada pelo teu ex-governo. Assim poderás voltar a dormir tranquilo e pagar aos teus fornecedores. Peço-te que rezes por mim. Não tenho nenhuma lei que me safe e não faço ideia de como irei pagar aos meus fornecedores. Peço-te que mantenhas as ruas de Lisboa muito limpinhas. Nunca se sabe com o que é que o futuro e os bancos nos deparam. Fora isso, tudo bem.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador reparou que a independência do Kosovo pode não ser uma má ideia

Enquanto aguardamos a recuperação de Ramos Horta, a independência do Kosovo foi a grande notícia internacional. Sabemos que tudo o que venha dessas paragens é normalmente incompreensível. No entanto, de uma coisa estamos certos: ninguém brinca nos Balcãs. Mas deixo para outro dia as análises possíveis das carnificinas prováveis. Para já, falemos do efeito dominó. Este efeito não tem nada que ver com o jogo propriamente dito. O dominó é um jogo pacífico, muito parecido com a palavra aborrecimento. Mas quando falam do “efeito”, os analistas fazem referência a essa mania de alinhar as pecinhas de um modo que quando caia uma esta faça cair a outra e assim sucessivamente. Isto é aquilo a que se chama uma "expressão metafórica". A ideia, neste caso, é a de que o Kosovo, ao tornar-se independente, outros pequenos estados podem seguir o exemplo, ou a queda, para continuarmos literalmente com o tal efeito dominó. Fiquem sossegados que Alberto João Jardim já disse que não está interessado em dominizar à Madeira. Mas imaginemos que outros povos queiram jogar ao dominó. Sem ir mais longe, os países bascos. Talvez também a Catalunha queira participar no jogo e fazer a sua própria kosovada. E com uma ajudinha, até os galegos podem gostar da ideia. Não vamos pôr de parte os andaluzes cuja costa jeitosa até dava um belo principado. Enfim, julgo que o panorama ibérico se podia tornar muito interessante com uma kosovação geral. E, finalmente, com uma Espanha kosovada, nós podíamos recuperar a Avenida da Liberdade e fazer do Corte Inglês um enorme Conde Barão. Fora isso, tudo bem.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador não está surpreendido com a entrevista ao Sr. Primeiro-Ministro

Não percebo qual é o objectivo de uma entrevista a um primeiro-ministro. Se é para que repita tudo o que disse na Assembleia, mais valia fazer um best of com os melhores momentos de Sócrates. Uma entrevista a um político tem de ser sanguinária ou então não deve acontecer. Ainda percebo menos os comentários dos jornais: "Sócrates elogia todas as políticas do seu governo". Mas o que é que esperavam? Que dissesse que se enganou com a Saúde ou que o Fisco está abusar com as medidas punitivas que executa? Que a vida está barata e andamos todos a nadar em dinheiro? É óbvio que não. Imaginem um primeiro-ministro a penitenciar-se em directo pela televisão a dois jornalistas. Queriam ouvir coisas como: "o meu governo não presta" ou "o meu governo não presta". Sejamos sérios. Sócrates esteve impecável. Só faltou dizer que ele é o melhor primeiro-ministro da história democrática portuguesa para ser totalmente sincero. Tenho a certeza de que até os jornalistas da entrevista assentariam com a cabeça, dizendo: "Não diríamos tanto, mas de facto está entre os melhores, Sr. Primeiro-Ministro". Mas a humildade do homem foi mais forte. Sócrates controlou-se. E todos sabemos que, em Portugal, a humildade é entre todas a qualidade mais apreciada. Aliás, também se aprecia muito os jornalistas que são bem-educados e não dão mostras de agressividade. Esta deve ser a segunda qualidade mais apreciada pelo público soberano. Por isso, admitamos, a intervenção de José Sócrates foi excelente. A entrevista é que não foi lá grande coisa. Fora isso, tudo bem.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador percebe a indignação dos dois Sócrates ante a manifestação dos professores

O secretário-geral do Partido Socialista, José Sócrates, reuniu-se com mais de cem professores socialistas na sede do Partido Socialista. Mas foi o primeiro-ministro José Sócrates a comentar que não governa para obter simpatias nem para o benefício de uma corporação. Até aqui tudo bem. Já temos maturidade democrática suficiente para perceber que é natural que qualquer político a partir de certa idade, ou quando fizer parte do governo, tenha dupla personalidade. Na rua estavam umas dezenas de professores aparentemente não socialistas a protestar e a vaiar o primeiro-ministro, mas poupando, como é elementar no jogo democrático, Sócrates, o secretário-geral dos socialistas. No entanto, foi o mesmo secretário-geral Sócrates que se insurgiu contra esta manifestação inédita na história, em que militantes de outros partidos se manifestaram numa sede partidária que não fosse a própria. O primeiro-ministro tentou acalmar o secretário-geral do Partido Socialista invocando a liberdade de o povo português se manifestar, mas sem sucesso. Para mim, este incidente é normal. Só não percebi os professores que se forem manifestar. Nenhum deles sabia que organismo sindical ou quem os tinha convocado. Todos tinham recebido um SMS anónimo para se irem manifestar à porta da sede dos socialistas. A minha pergunta é seguinte: alguém pode confiar a educação dos nossos filhos a professores que obedecem a um SMS anónimo? Eu não. Mas fora isso, tudo bem.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador está feliz com os novos avanços da medicina

Oiçam esta notícia maravilhosa: "Primeiro transplante de rim entre marido e mulher é um 'avanço' na área", diz Eduardo Barroso. Para começar, observemos que quem afirma que o tal transplante é um avanço é o Dr. Barroso, que na semana passada reconheceu ter ganho – e continuar a ganhar – uma pipa de massa por incentivar a realização de transplantes. Suponho que sempre que assiste a um transplante, o Dr. Barroso deve dizer "já cá canta mais um", "o Mercedes já está pago", "Querida, vamos ao Hawai" ou "ainda bem que já estava de olho no Bentley". Mas, pronto, ainda bem para o Barroso o futuro da medicina em geral. Continuemos com a notícia: "Primeiro transplante entre marido e mulher". Eu não sabia que isso não se podia fazer isso com a própria mulher. Não é que eu já o tenha feito. Mas como sempre estamos a experimentar coisa novas, mais cedo ou mais tarde, se calhar, numa noite de Verão, a minha mulher e eu éramos bem capazes de chegar aí. Quando li a notícia mais detalhadamente, percebi que esse tipo de transplante nunca antes tinha sido feito, não por ser pecado, mas por causa das seguradoras. Não queriam cobrir o risco do dador. E agora voltamos ao princípio. O tal grande "avanço" de que falava o Barroso, não era por causa da própria operação. Foi porque agora a seguradoras abriram um novo incentivo para os incentivadores de transplantes. Fico feliz por eles. Como diz aquela publicidade: "há coisas fantásticas, não há?" Fora isso, tudo bem.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador propõe uma medida radical nunca antes imaginada

Corre por aí um grande chinfrim com a notícia de que Santana Lopes prestou assistência jurídica à Globalia, empresa vencedora do concurso de privatização de serviços aos passageiros da TAP. Eu só peço calma ao povo. Este episódio não se enquadra na descrição de delito de corrupção. Nem sequer é uma infracção a algum código que por aí ande. É apenas uma confusa derivação daquele famoso ditado que diz que não basta à mulher de César ser honesta, deve também aparentá-lo. E bem, Santana não aparenta é isso não é nada bem visto. Contudo, a ira popular não deve ser dirigida para o rapaz. Se existe um problema, o problema está no que aquele saudoso presidente do Sporting denunciava repetidamente: o sistema. Neste caso, nem sequer é um caso. O ex-primeiro-ministro apenas aceitou o que qualquer desempregado aceita: um tacho. Tacho este que até me atrevo a descrever como um pequeno tacho comparado com os grandes tachões que sabemos que outros ex-governantes aceitaram e, em muitos casos, até mais suspeitos. Atenção que não estou a defender o criminoso por o crime ser menor. Gostaria simplesmente de lembrar o meu querido povo que na realidade não há crime nenhum e até acredito não há criminosos nem grandes nem pequenos. E esse é o problema. Os buracos da muito mencionada, mas nunca bem esclarecida, lei das incompatibilidades são maiores do que o do ozono ou mais do que alguma mente tortuosa e esburacada possa imaginar. Não linchemos ninguém que isso não se faz. O que devemos fazer, agora que está na moda, é falar com um advogado. Com um bocado de sorte, conseguimos pôr uma providência cautelar à Assembleia da República. Fora isso, tudo bem.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador descobriu as consequências da proposta do Arcebispo de Cantuária

Suponho que todos saibam da proposta disparatada do Arcebispo de Cantuária, Rowan Williams, de incorporar a lei islâmica, a Sharia, no sistema jurídico inglês. Julgo que toda a gente se indignou aquilo que se tinha de indignar, eu inclusive. Já não há, ou não deveria haver, pachorra para esta história do multiculturalismo e do politicamente correcto. Eu adoro estrangeiros tanto como adoro os autóctones. Quanto mais não seja, em alguns casos, por razões gastronómicas. Mas em questões religiosas as coisas podem dar lugar a oportunistas. Imaginemos um homem que prefere viver a sua juventude como cristão. É óptimo, pode beber e tal. Quando se excede nos prazeres, pode sempre recorrer à confissão. Depois, chegado o momento de se casar, pode optar pelo islamismo: a mulher passa a ficar fechada, escondida e juridicamente controlada. Quando envelhece, nosso homem escolhe uma outra religião, budista ou xintoísta, por exemplo. Tanto uma como a outra acreditam na reincarnação. O homem morre e reencarna, e tudo volta ao mesmo. Parece tão perfeito, como esses planos de poupanças que os bancos gostam tanto de oferecer. Tenho a certeza de que o Arcebispo Anglicano não percebeu as consequências da sua proposta. Não é um problema de integração religiosa. Pelo contrário, parece mais uma espécie de livre comércio da vida eterna. Fora isso, tudo bem.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador explica as regras de etiqueta às pessoas despejadas

É provável que a moda não seja exclusivo da Moda Lisboa ou do Portugal Fashion. A moda deve ser qualquer coisa como uma atitude contagiosa. Eu explico como cheguei a esta conclusão. Primeiro, foi o bastonário da Ordem dos Advogados a dar pauladas na classe política e noutras classes similares. Depois aparece o novo bastonário da Ordem dos Médicos a dar pauladas por causa do fecho das urgências. Na sexta-feira passada, a Polícia, continuando com o mesmo raciocínio, despejou à bastonada os sócios do Grémio Lisbonense. Estão a ver o fio condutor? Eu só vos digo que os bastões estão em força nesta temporada de Inverno. Claro que este elegante acessório nem a todos fica bem, é preciso ter um certo tipo de porte para ressaltar a beleza natural. Curiosamente, julgo que quem faz uso do bastão deve ter, antes de mais nada, uma certa presença; eu diria mais: alguma autoridade. É por isso que não tenho dúvidas em afirmar que se alguém nasceu para bastonário, essa pessoa se encontra na Polícia. Não quero com isto dizer que as bastonadas dadas no Grémio tenham sido justas ou injustas. Apenas digo que estavam a condizer com a ocasião social em que foram utilizadas. Quando a Polícia aparece com bastões para executar uma ordem de despejo, todos sabemos que eles não têm tempo para socializar. Assim, os protestos dos agremiados lisbonenses a querer dialogar eram totalmente despropositados naquele primeiro encontro, nada aprovados – mas de todo! – pelas mais elementares regras da etiqueta. Daí as bastonadas. Fora isso, tudo bem.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador acha que os republicanos têm uma grande falta de chá

Não sou monárquico mas também não sou antimonárquico. Julgo que as ainda existentes monarquias europeias, todas elas implantadas em países com uma democracia exemplar, provam que os fanatismos republicanos não fazem sentido. Na semana passada tivemos o aniversário do regicídio. As polémicas em redor dessa data foram extraordinariamente estúpidas. Uma banda militar deve estar presente ou não? Como se o erário público se pudesse ressentir com tanta pompa, ou como se fosse um insulto para República que a banda tocasse na inauguração duma estátua. Aliás, concordemos que os ouvidos republicanos seriam mais bem tratados se as bandas militares praticassem um bocadinho mais. Na Assembleia grande dilema patriótico: voto de pesar pelo último rei de Portugal ou voto de alegria pela morte do gordo D. Carlos e de seu filho, já pesadote, o príncipe herdeiro? Tenhamos cuidado! O povo está observar-nos! Que medo! Deixem-me que vos diga, senhores deputados: o povo estava totalmente nas tintas para a vossa votação. Mas o mais absurdo no meio de tudo isto foi a sensação de que, de tanto dizerem "regicídio", as pessoas terem esquecido o significado da palavra. O regicídio foi um assassinato a sangue frio. Onde é que está o dilema moral? Custa tanto dizer que "bem, é bom que Portugal seja uma república, teríamos gostado que fosse de outra maneira… Enfim, ao menos não fomos tão selvagens como os franceses. Eles mataram mais… e com guilhotina, que de facto é muito feio… não havia necessidade. Sim, claro que pode ir uma banda militar e claro que toda a Assembleia tem muita pena que tudo tenha começado com tão desagradável incidente". Não custava nada, pois não? Fora isso, tudo bem.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador elogia o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos da América

Hoje acordei mal disposto. A minha má disposição não se deve a motivos nacionais. São as primárias americanas que estão a dar cabo do meu estômago. Todos julgamos que o próximo presidente dos Estados Unidos vai ser um democrata. Mas parece que não. Curiosamente, para os americanos o próximo presidente americano será um preto ou uma mulher. Ninguém consegue falar das diferenças ideológicas. Se Hillary ganha num estado, é porque é mulher. Se perde no outro é porque o marido se intromete demasiado na campanha. Se Obama ganha noutro sitio qualquer, é porque mobilizou o eleitorado preto ou anti-racista. Se perde, é porque é preto. Eu acho que os democratas americanos são toda uma cambada de maricas, misóginos, racistas, feministas e afro-tendenciosos. Todos eles, claro, espalhados pelo território. Por isso devemos dar valor aos candidatos republicanos, e por três razões. A primeira é a coragem de todos eles em aceitar concorrer às próximas eleições presidenciais representando o mesmo partido a que pertence o actual presidente Bush. A segunda razão é que não tiveram nenhum candidato mulher nem preto, que, como vemos, só faz confusão. A última é que os candidatos evangelistas perderam a Fé e todos eles desistiram ou quase. Aliás, os laicos também. Só fica John McCain, que é homem e branco, características mais que suficientes para ser um presidente como Deus manda. Ainda por cima tem outras qualidades como ser herói de guerra e ex-torturado, o que é uma garantia para o caso de voltar a ser capturado. Sabemos que não vai revelar nada que não saibamos. Fora isso, tudo bem.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador declara que os controlos internos fracassaram

Em França, o banco Société Général foi lesado com uma fraude de cinco mil milhões de euros. O responsável foi Jérôme Kerviel, um puto de trinta e um anos. Escândalo. Não pelo puto, mas pelos cinco mil milhões. Como pôde acontecer uma fraude de tamanha envergadura? Depois de uma grande investigação, esperava-se uma explicação à altura dos cinco mil milhões de euros. Finalmente a Ministra da Economia francesa, Christine Lagarge, bem informada, como qualquer ministro que se preze, declara que a fraude se deveu ao fracasso dos controlos internos. Eu fiquei hipnotizado. Isto sim é que é falar. Tem a genialidade das coisas simples que todas as pessoas compreendem e, no entanto, abrange os meandros mais complexos de qualquer mecanismo. Só alguém que saiba muito, e que queira dizer só o que é preciso, diz: "Os controlos internos fracassaram". Ainda por cima, funciona com tudo o que dê bronca, seja complexo e cuja solução seja conhecida. Podem experimentar com o Benfica, os excessos da ASAE, as relações sexuais, as devoluções do IRS, o Terreiro do Paço, o Serviço Nacional de Saúde; enfim, com tudo. É muito provável que comecemos a ouvir esta frase em qualquer conferência de imprensa do governo. Aposto que Mário Lino vai ser o primeiro a utilizá-la. Por outro lado, admito, embora me pareça impossível, que a explicação da Ministra da Economia francesa se resuma à frase "os controlos internos fracassaram", porque, na realidade, não faz a menor ideia do que aconteceu na Société Générale. Nesse caso, é uma pena. Não serve. Dizer "os controlos internos fracassaram" é tão fraudulento como os cinco mil milhões que desapareceram. Fora isso, tudo bem.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador incentiva ao pagamento de mais incentivos

Li num jornal com o título em grandes caracteres que os médicos ganham milhões em incentivos a fazerem transplantes. Este artigo condena os incentivos de certos profissionais, disfarçados de uma suposta ética superior. Eu explico. Há muitas injustiças na vida. Não ter saúde e ser feio são duas delas. Mas ganhar muito dinheiro ou ser incentivado por um trabalho difícil de realizar nunca se poderá incluir no vasto rol de injustiças a corrigir. Bons médicos e bons polícias nunca são suficientemente bem pagos nem pouco incentivados. Muita boa gente pode chocar-se com a minha inclusão de polícias na lista de incentivados. Mas se alguma vez se encontrassem com um gangue no meio de nenhures, bem podiam lamentar a falta de pessoal em tão nobre instituição. Logo a seguir pagava incentivos aos professores do ensino primário, que, no fundo, são uma mistura das duas profissões anteriores. E ainda lhes dava um bónus para cuidados psiquiátricos e mais um outro incentivo por sobreviverem aos fedelhos que tão alegremente nós concebemos. Também pagava incentivos a todas as pessoas só para ir e voltar ao trabalho, independentemente da profissão exercida. Enfim, ter pouco incentivo até é um conceito que pode ser objectivo. Basta somar os custos dos bens essenciais mais duas ou três coisinhas e resta aquilo que nos incentiva. Se não sobra nada, estamos feitos. Ganhamos mesmo pouco. Agora, estar bem incentivado é outra coisa completamente diferente: ninguém objectivamente pode afirmar a partir de quanto e fazendo o quê é que se está a ganhar muito. Com que valor merece ser incentivada uma pessoa que sabe como se implanta um fígado, ou aquela que depois de estar seis horas diárias com quarenta crianças malcriadas não comete infanticídio? Todo o incentivo é pouco. Fora isso, tudo bem.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador profetiza um apocalipse judicial

Hoje, terça-feira Gorda, ou para os pagãos, dia de Carnaval, é um bom dia para falar de uma lei que está pronta para ser sancionada e que pode, sem querer, ser o principio do caos. O Estado vai indemnizar as pessoas que sejam prejudicadas por erros ou atrasos nos processos judiciais. Assim dito, é uma óptima lei. O pormenor que se afigura apocalíptico é que o Estado, por sua vez, pode responsabilizar os magistrados responsáveis por essas decisões. Isto quer dizer que se um juiz se engana, pode ter de pagar ao cidadão uma quantia, que duvido seja pouca, pelo erro cometido. Isto traz como consequência natural que os magistrados tenham de fazer seguros para cobrir os riscos e as despesas de possíveis pedidos de indemnizações de que possam ser objecto. Por outro lado, as companhias de seguros vão penalizar procuradores e juízes que se enganam mais frequentemente. Não esqueçamos que além do engano, os atrasos também serão sujeito a indemnizações. Hipoteticamente e para falar dos casos mais mediáticos, imaginemos se todo o processo de Casa Pia fosse um erro judicial. Adicionemos a afirmação do director nacional da Polícia Judiciária, Alípio Ribeiro, que admitiu que "houve uma certa precipitação" ao constituir Kate e Gerry McCann como arguidos. Alguém é capaz de me dizer quantos zeros podem chegar a ter os cheques destas indemnizações? Só vos digo que esta lei, que até acho justa, vai levar à falência as nossas já antipáticas companhias de seguros. Esperem lá. Esqueci-me de uma coisa. Não são as companhias de seguros que vão à falência. Não interessa. Alguém com certeza há-de ir à falência. Fora isso, está tudo bem.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador defende os políticos injustamente trucidados na praça pública

Os políticos, mesmo que ninguém acredite, são pessoas como nós. E tal como nós, têm as suas fraquezas e as suas virtudes. Cheguei a esta conclusão graças aos jornais de fim-de-semana. Vejamos o caso de Sócrates, por exemplo. O homem foi acusado de violar, desculpem a palavra, o acordo de exclusividade com a Assembleia da República por ter feito certos trabalhos quando não podia na sua condição de deputado. Oh! Grande problema! Como se alguma vez não tenhamos feito algum trabalhinho fora das horas de expediente. Ainda por cima, e é importante dizê-lo, isto aconteceu há mais de quinze anos, altura em que, nem no mais feliz dos seus sonhos, nem no maior momento de auto-estima, passava pela cabeça do rapaz que pudesse algum dia chegar a primeiro-ministro! Mesmo assim, a imprensa implacável não deixou passar este insignificante incidente. Ainda bem que a verdade veio ao de cima e o actual primeiro-ministro esclareceu que nunca tinha recebido o tal subsídio de exclusividade indevidamente. Bem feita para aquele que pensou mal e interpretou pior a declaração de IRS de Sócrates. Outro exemplo da humanidade dos nossos políticos é o Telmo Correia. Fizeram-se infames ou talvez apressadas ilações por este ter assinado 300 despachos na madrugada da tomada de posse do novo governo. Quem, pergunto eu, não ficou alguma vez na vida com trabalho atrasado? Quem, volto eu a perguntar, não fez uma directa para cumprir os prazos estabelecidos? Em vez de elogiar o empenho profissional do Telmo, as pessoas mesquinhas só falam de um ou dois despachozinhos que podem ter uma ou outra imperfeição. Qual é o significado de um, dois, vai lá, três despachos discutíveis entre três centenas? Por amor de Deus, mostrem-me um homem que não se engane e eu mostrar-vos-ei um monstro. Fora isso, está tudo bem.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O Senhor Comentador acha que o sistema judicial parece uma piada

Paulo Pedroso colocou uma acção cível contra o Estado por ter ficado cinco meses em prisão preventiva. Pede oitocentos mil euros de indemnização. A testemunha-chave neste processo é o juiz Rui Teixeira, que, na altura, dirigia o processo da Casa Pia e deu a ordem de detenção de Pedroso. O Conselho Superior da Magistratura deliberou que Rui Teixeira ainda deve respeitar o “dever de reserva”, que é o nome queque para o popular e mal tratado “segredo de justiça”. Se bem percebi o imbróglio, a pessoa que pode provar que foi justa ou injusta a prisão preventiva daquele ex-dirigente do PS e fazer com que o Estado pague ou não os oitocentos mil euros é a única pessoa que está proibida de falar. Suponho que tanto os juízes como os advogados de Pedroso estudaram, ou deviam ter estudado na escola, que uma acção contra um processo judicial obrigaria sempre a revelar o tal segredo de justiça. Estão a ver que não saímos daqui tão cedo? A pomposidade judicial, tão ridícula que é, parece infantil. Faz-me lembrar aquela piada muito antiga em que um homem encontra um amigo e lhe pergunta:
- Onde vais?
- Ao cinema.
- O que vais ver?
- Quo vadis.
- O que é que isso quer dizer?
- Onde vais?
- Ao cinema.
- O que vais ver?
- Quo vadis.
- O que é que isso quer dizer?
- Onde vais?
- Ao cinema…
E assim por diante até que os advogados de defesa ou os procuradores se cansem de contar a história. Fora isso, está tudo bem.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador conta uma história com final feliz

O bastonário da Ordem dos Advogados abriu o Ano Judicial como Clint Eastwood a entrar naquele bar no filme Imperdoável. Lembram-se? O Gene Hackman era o xerife vilão. Depois de ouvir o discurso do Dr. António Marinho até o mais corrupto dos corruptos deve ter chorado e gritado: "sou um lixo, sou um lixo" enquanto mandava vir outra garrafa de champanhe ao grumete do seu iate, ancorado na Sardenha. As duas top-models que estavam com ele na popa, temendo o pior, correram trinta metros para a proa para não incomodar. Sim, o senhor bastonário sabe magoar. Conta a lenda que o Procurador-geral da República, o Dr. Pinto Monteiro, desde aquele dia nunca mais saiu do seu despacho no Rato. Ficou, fechado, a ler todos os jornais saídos em Portugal desde o dia 25 de Abril de 1974 até aos dias de hoje, a tentar perceber de quem esteve a falar o bastonário. O povo também não ficou contente. "Porquê?" "Porquê?", todos perguntavam. A desilusão era enorme. Quem podia imaginar que tantos eleitos pelo povo e para o povo se tivessem deixado seduzir pela ganância. "Afinal, a culpa não é dos comunistas", diziam alguns rapazes de cabelo muito curto. "Nem dos fascistas", replicavam outros de cabelos compridos com charros nos lábios molhados pelas lágrimas. O Bastonário tinha ficado sozinho sem clientes nem amigos ricos. Felizmente esta história passou-se em Portugal. Uma semana depois e duas vitórias por goleada do Benfica e já ninguém se lembrava do discurso de abertura do ano judicial. Todos os portugueses casaram-se e foram felizes para sempre.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador fala dos esqueletos no armário dos novos ministros

Sócrates finalmente fez a remodelação do governo. Já não era sem tempo. É verdade que Mário "jamais" Lino ficou para segundas núpcias. Ou pelo menos o grande povo de Alcochete assim o espera. Apesar de tudo, os que não estão satisfeitos com esta mexida governamental não têm razão de queixa. O novo Ministro da Cultura, António Pinto Ribeiro, é inteligente, culto, fala cinco línguas, (nenhuma delas é o russo nem o chinês, que são línguas que inspiram desconfiança). Faz parte da Fundação Berardo, mas também ninguém é perfeito. É advogado mas como já disse ninguém é perfeito. Tem como clientes os Gato Fedorento, coisa que só lhe fica bem. Mas como todas as pessoas tem um esqueleto no armário: é advogado de Sá Fernandes. É do domínio público que Sá Fernandes é uma máquina de abrir processos: ele é o túnel do Marquês, ele é a Feira Popular, o Parque Mayer e assim por diante. Pinto Ribeiro vai ter de decidir entre a Cultura e Sá Fernandes. Não há lugar no país para os dois. Com a nova Ministra da Saúde Ana Jorge não temos este problema. Ela é médica pediatra e Deus sabe que, apesar de tudo, Sá Fernandes já não é uma criança. Ana Jorge tem um currículo respeitável que nos dá garantias de que suportará os futuros insultos próprios do cargo que ocupa. Contudo, tem uma nódoa no seu passado. Eu diria menos, uma nodoazinha: foi impulsionadora do Serviço 24, assistência médica telefónica, deixou-se influenciar por um desses génios do marketing e permitiu que o serviço tivesse o cognome infantil "Dói, dói, trim, trim". Convenhamos que é um nome pouco sério para um serviço dirigido às pessoas que estão a viver um mau momento. "Doi, dói, trim, trim"? Tenho a certeza de que são as crianças hipocondríacas que ligam à espera de ouvir o Batatoon a dar conselhos médicos. Fora isso, tudo bem e bem-vindos ao convívio.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador percebeu o amor que os nossos governantes sentem por nós

Há um novo conceito estatístico no governo. A fórmula é se um organismo faz x procedimentos, é muito provável que pelo menos x menos um corram mal. A primeira vez que ouvi esta fórmula foi quando o director da ASAE, António Nunes, disse à comissão parlamentar, que era natural que sendo tantas as intervenções feitas por aquele organismo algumas fossem menos correctas que outras. Poucos dias depois ouvi o Ministro da Saúde, Correia de Campos, afirmar "que o INEM recebe 4500 chamadas por dia e podem nem todas correr bem". Oficialmente não foi dito, mas o Ministro das Finanças reconheceu que nem todos os processos de dívidas dos contribuintes foram executados com rigor. O mesmo acontecia com os reembolsos do IRS. Ao ouvir estes desabafos sinceros e doridos percebi finalmente aquele conceito do socialismo de face humana. Os nossos governantes reconhecem o erro e ainda por cima sofrem. Como dizia Clinton, (en inglês, claro): "Sinto a vossa dor". É lindo e comovedor. Faz-me lembrar a uma namorada que tive. Sempre que me fazia uma sacanice, voltava lavada em lágrimas, a contar-me e a pedir desculpas. Eu, carinhoso como sempre fui, acariciava os seus cabelos e dizia-lhe: "Não te preocupes, meu amor, das x vezes que fizemos amor, é normal que pelo menos x menos uma, te tenhas enganado". O amor, não é bonito?

O Senhor Comentador faz uma adenda especial para a Ana Cristina Leonardo

Continuando o raciocínio esotérico, cara Meditação na Pastelaria, o nome Marcelo Rebelo de Sousa tem vinte letras. Se dividirmos este número por três temos 0,666. Ringa alguma bell?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador descobriu que fizeram uma macumba ao PSD

Pode dizer-se, sem grande margem para erro, o que metade dos portugueses gostaria de ser quando fosse grande: o Ronaldo. O Ronaldo é alto, vive em Inglaterra, ganha milhões a jogar, é amado por multidões, das quais muitas dessas multidões, são mulheres e quase todas muito giras e, como se fosse pouco, é solteiro. A outra metade dos portugueses também gostaria de ser o Ronaldo mas vão ter de esperar até à próxima encarnação. Mas é pouco provável. Para consolar todos estes sonhadores de sonhos impossíveis só posso dizer que devem estar contentes com aquilo que são. Além de não terem alternativa, tudo podia ser pior. Por exemplo, quando fossem grandes ou numa futura encarnação podiam ser o líder do PSD. Deve ser neste momento o último sonho ou a última encarnação que um português gostaria que se tornasse realidade. O problema não é o dinheiro nem as mulheres, embora sejam argumentos fortes. A dificuldade de ser líder do PSD nesta ou noutra vida é a de simplesmente ter um lugar cativo no inferno. É uma maldição que a história confirma. Durão Barroso foi bem aconselhado pelo seu orixá. Com certeza trabalha mais agora do que quando foi Primeiro-ministro, mas viaja muito e conhece tudo o que é gente. Santana, esse animal político, não acreditou no mau-olhado. Marques Mendes achou que acabava com o enguiço. Menezes, por uma questão de alternância democrática, achou que o mandato do feitiço tinha acabado. Mas não. Seja quem for o líder do PSD, ele nunca ficará pela mesma razão que ninguém passa por baixo de uma escada ou fica sozinho num cemitério numa sexta-feira treze. E sabem quando tudo isto começou? Com o Professor Marcelo Rebelo de Sousa. O último líder do PSD que se foi embora por razões exclusivas da política. E sabem quantas letras tem "Rebelo de Sousa"? Treze. Não acredito em bruxas, mas que las hay, las hay.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador descobriu a quadratura do círculo tauromáquico

Parece que a França está a estudar uma lei para proibir o acesso às corridas de touros a menores de 16 anos. O governo francês comunicou a sua intenção às três organizações que tinham proposto a ideia: à Sociedade protectora de Animais, como não podia deixar de ser, e a outras duas instituições que me merecem menos respeito – O Comité Radicalmente Anti-Corridas e a Federação de Ligações Anti-Corridas. Não duvido das boas intenções destas organizações mas convenhamos que, com esses nomes, não propiciam qualquer tipo de diálogo. De todas as formas, eu acho uma má ideia porque todos sabemos que basta proibir alguma coisa para que ela se torne mais apetecível. As consequências podem ser nefastas. Imagino o pior. Desde corridas clandestinas organizadas às três da manhã em tudo o que seja jardim público ou praia, até, o que pode ser ainda pior, corridas organizadas nas casas dos pais enquanto eles estão de "vacances" em Saint Moritz. Imagino adolescentes ansiosos por fazer 16 anos só para poder presenciar uma tourada. Dealers sem escrúpulos a vender bilhetes ao dobro do preço nas portas dos liceus. Já sem contar com o tráfico de DVDs de corridas: 20€ com forcados, 40€ com cavalheiros portugueses, e se querem mesmo emoções fortes, 80€ e podem ter hard core com espanhóis. Quem diria que uma lei destas pudesse deixar os abolicionistas satisfeitos e prósperos os tauromáquicos.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador explica porque é irrelevante que Bill Clinton adormeça durante a homenagem a Martin Luther King

Foi notícia de primeira página que o ex-presidente Bill Clinton adormeceu no acto evocativo da morte de Martin Luther King. O escândalo pertence mais ao mundo das sondagens eleitorais do que ao acto em si. Quem não adormece durante uma dissertação panegírica? Nem mesmo que esta seja dita pelo próprio filho do comemorado, o que, por sinal, foi o caso. O curioso desta história é a sobrevalorização que o incidente teve nas mãos dos génios que profetizam os resultados eleitorais. Hillary Clinton, por causa da soneca do Bill, pode perder os votos de muitos afro-americanos, que é como chamam na América aos pretos. Julgo mais provável que, se for para perder votos, estes serão os votos dos branquinhos que acham terrível adormecer enquanto se fala dum preto morto mas que dizem que é apenas má educação se alguém passa pelas brasas quando o morto é branco. É estúpido pensar que adormecer é um acto racista. Bill Clinton estava cansado. Coisa perdoável a todo ser humano. E ainda mais perdoável a um homem cujo apetite sexual é inversamente proporcional às suas capacidades cardíacas. Por outro lado, se eu estivesse enganado, sejamos realistas: o eleitorado afro-americano não chega aos 12%. Digamos que, no melhor dos casos, 8% votam. Desses 8%, pelo menos 3% votam sempre no partido republicano seja quem for o branco que se candidate. Dos 5% que restam, só 2% julgam que Obama é preto. Depois da soneca do marido, Hillary podia perder, no pior dos casos, metade desses 3%. O que é que passa pela cabeça desse um e meio por cento para achar que pode decidir quem vai ser o futuro Presidente dos Estados Unidos?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador explica a linguagem subtil da ASAE: o Asaense

António Nunes foi à Assembleia da República a uma audição na comissão parlamentar de assuntos económicos. Todos sabemos que António Nunes é o muito visível chefe da ASAE. Mas alguém sabe o que é uma comissão parlamentar? Pelo que vimos Nunes respondeu às perguntas feitas pelos deputados e, pelo meio, tanto uns como outros fizeram declarações. À primeira vista, uma audição com uma comissão parlamentar é como uma conferência de imprensa sem jornalistas a fazer perguntas. Mas se virmos mais atentamente, observamos que as perguntas feitas pelos deputados são as mesmas que já tinham sido feitas pelos já mencionados jornalistas. Então, podia-se pensar que de facto é uma conferência de imprensa. Errado. A diferença está na interpretação das respostas. Se, por exemplo, António Nunes afirma a um jornalista que deviam fechar pelo menos 50% dos restaurantes em Portugal, o jornalista se falasse Asaense devia ter publicado que 50% dos restaurantes portugueses deviam modernizar-se. Por outro lado, se António Nunes disse aos deputados que o 50% dos restaurantes portugueses devem modernizar-se, os deputados que têm traquejo neste assunto de audições e que dominam o idioma Asaense, percebem perfeitamente que é inevitável que 50% dos restaurantes em Portugal devem fechar. É uma questão de linguagem. É por isso que os políticos deviam só dar entrevistas aos políticos e os jornalistas deviam aprender línguas na Assembleia.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador confirma o retrato robô do presumível autor do desaparecimento de Maddie McCann

Foi publicado em vários jornais um retrato robô do presumível sequestrador da pequena Maddie. Um homem moreno, magro, com bigode, sobrancelhas espessas, dentes saídos e cabelo comprido. A testemunha descreve-o como sendo oriundo do norte de África mas na realidade podia ser o nosso vizinho do lado. Quem vê o retrato só pode concluir que se esse homem é inocente, eu sou a Cicciolina. Não pode ter uma cara mais culpável. Se não sequestrou a Maddie com certeza é culpado de outros crimes hediondos. Esse homem deve ser apanhado seja como for. É feio e mete medo. É possível que nem sequer seja norte-africano. Mas seguramente vive em Portugal. Estamos fartos de ver gente tão mal encarada como ele em todo o lado: na feira do Relógio, na Almirante Reis, na Cova da Piedade. Eu próprio vi-o quando comprei um jornal nos Restauradores. É possível que seja actor nas horas vagas, porque tenho a certeza de que o vi a fazer de dealer em várias séries policiais americanas. Não posso jurar, mas até me parece tê-lo visto num filme português. Fazia, curiosamente, de vilão. É incrível o bem apanhado que está pelo artista, que, segundo parece, foi formado no FBI. Eu já desconfiava que o responsável pelo desaparecimento da Maddie, fosse ele quem fosse, não podia ser branco, loiro e de olhos azuis. Pessoas assim não comentem crimes desta natureza. Eu, pela minha parte, já estou mais tranquilo e, fora isso, está tudo bem.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador está decepcionado com o terrorismo internacional

Quando li no El País que França, Portugal, Reino Unido e Espanha estavam sob ameaça de um atentado terrorista, senti um arrepio. Nós incluídos no meio de nomes tão famosos! Finalmente conseguimos fazer parte do mapa internacional! Nos últimos anos só por duas vezes deram por nós. A primeira vez foi quando, antes da invasão ao Iraque, fomos anfitriões nos Açores. Mas essa não conta porque fomos apenas uma espécie de alcoviteiros numa festa onde Bush, Blair e Aznar fizeram a festa e nós só emprestámos a casa. A segunda ve, aconteceu há pouco tempo com o Tratado de Lisboa, mas também não conta porque a festa foi organizada pela Alemanha, França e pelo resto. Embora quem mais se tenha divertido tenham sido aqueles gémeos que mandam ali na Polónia. Enfim, nós só pagámos os copos. Também não conta. Agora estar na lista de alvos do terrorismo internacional, já é outra história. Tem pinta. Estava eu a pensar quais podiam ser os alvos tipo: a Torre de Belém por causa do seu conteúdo simbólico, o estádio do Benfica, pelo seu passado também simbólico, ou a colecção Berardo no Centro Cultural de Belém, que, simbolicamente, até nos dava jeito que a bombardeassem, quando, ao fim do dia, falou Sócrates. E, mais uma vez, fomos tranquilizados pelo nosso primeiro-ministro. Não há motivo para alarme, embora o terrorismo seja um fenómeno sério nos dias que correm, não há justificação para preocupações nem para medidas especiais. E lá se foi o nosso estatuto de alvo internacional. Mais uma vez, a voz da razão tirou-nos qualquer mania das grandezas que podia germinar nas nossas cabeças. Falso alarme. Ninguém nos liga. Fora isso, está tudo bem.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador acredita que somos todos criminosos

A cada dia que passa mais me convenço de que nos estão a obrigar a voltar a infância de uma maneira compulsiva. Como quando éramos crianças: Não comas isso, não bebas aquilo, não corras, as mãos em cima da mesa… Já perdi a conta das coisas que nos estão a proibir. E agora como adultos, é mais difícil: não aprendemos tão depressa como antes. Ele é o código da estrada. Ele é os restaurantes. Cada semana uma coisa nova e sempre radical. Não vejo mal em nada disto. Só teria gostado que não fosse tudo ao mesmo tempo. Ainda não nos habituámos às coisas simples como, por exemplo, que não é possível fugir ao fisco. Só agora percebemos que os cartões de crédito não são um acto de beneficência dos bancos mas antes pelo contrário. Já que não nos fica nenhuma alternativa a não ser voltar à infância, o mínimo que podem fazer por nós é ser um bocado mais pedagógicos. Se não vamos começar a confundir tudo. Eu, por exemplo, já não sei 0,5 é a taxa de alcoolemia máxima permitida ou o novo aumento no IRS. É preciso ter uma licença para usar uma colher de pau? Se trabalho na ASAE, posso fumar nos casinos? Se assaltar um banco a fumar, tenho a pena agravada? Trinta é o valor do IVA ou a velocidade máxima permitida nas auto-estradas? Ou será a velocidade mínima nas zonas pedonais? Se compro uma bola de Berlim devo denunciar-me a mim mesmo à Polícia? Desculpem lá mas é muita informação e a culpa é das novas tecnologias. Dantes levava-se mais tempo a fazer leis e as pessoas podiam acompanhar. Agora não. Eles são muito mais rápidos a legislar do que nós a perceber, e eu ainda hoje me esqueci de pôr o cinto de segurança… Ainda vamos levar algum tempo a aprender a viver no meio de tanta legalidade.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador revela os bastidores da moção de censura

Ontem foi chumbada a moção de censura apresentada pelo Bloco de Esquerda. Para Francisco Louçã, dirigente do partido, isto foi uma surpresa. Uma fonte anónima contou-me que, na manhã de ontem, os cálculos feitos davam como garantida uma esmagadora vitória na votação. Só era preciso convencerem o PSD e o CDS e esperar que Manuel Alegre e os seus seguidores também votassem a favor da moção. Obviamente, para isso, devia haver certas condições particulares. O Francisco devia estar eloquente e convincente. Não seria difícil, pois o líder do Bloco é conhecido pelos seus dotes oratórios. No entanto, na reunião que teve com a comissão directiva, os deputados do Bloco, assessores e conselheiros, no táxi que os levava para a Assembleia, confidenciou que era fundamental que Santana Lopes e Paulo Portas ouvissem bem o seu discurso. "Temos de impedir que a direita ligue os Ipod enquanto falo, se não parte da nossa estratégia pode ir por água abaixo". Fazenda e Drago responderam que eles próprios tratariam disso. "Pena que a Joana Amaral não esteja presente, ela conseguia desligar aquelas maquinetas", murmurou um assessor enquanto pagava ao taxista. Ana Drago fez de conta que não ouviu. "Já Ligaram ao Manuel Alegre? Olhem que às vezes ele dorme até tarde", perguntou o Francisco, preocupado. "O Sá Fernandes trata disso logo a seguir a denunciar uma nova tentativa de corrupção", afirmou um dos deputados que carregava as pastas dos outros membros da comissão directiva. A minha fonte anónima, que também estava no táxi, disse-me que o optimismo reinava. Infelizmente a direita não desligou os Ipod e Manuel Alegre não foi à Assembleia e, inesperadamente, o partido socialista chumbou a moção de censura.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador gosta de telenovelas sobre juros bonificados

Finalmente o BCP tem um presidente e o povo português respira aliviado. Desde Gabriela, a famosa telenovela brasileira, que o povo português não estava tão expectante e ansioso pelo final da história. Não me falem da rapariga pobre que se casa com o rapaz rico nem do comunista que se torna padre franciscano. Em Portugal não precisamos desses lugares comuns para fazermos uma história de amor, ódio e dinheiro. Um banco da Opus Dei que, inesperadamente se torna ateu e socialista?! Isto sim, é uma história. Não falta sequer aquele herói que salva milhares de empresas da falência. Temos o vilão que, presidente de um Banco muito grande, leva para a tumba o segredo do filho bastardo. Também não falta o rapaz que, de humilde empregado de balcão, chega a ministro e, mais importante, a favorito de primeiro-ministro e que, por dever, deixa um trabalho altamente remunerado num banco do Estado, para se aventurar noutro, ainda mais bem remunerado, que, pasmem-se, é um banco privado! Horror! Sim, ele troca a paz e o amor dos mais pobres pela incerteza da paixão, talvez casual mas intensa, pelos mais ricos. A delicadeza da narrativa portuguesa não nos mostra cenas de sexo. Mas sabemos que deve haver uma Soraia algures entre as caixas fortes, os balcões das sucursais e a Alfândega do Porto. BCP! BCP! Grita a multidão, lembrando ironicamente os comunistas constipados. Sim, o mundo pode ter tido o seu Código Da Vinci – mas nós, nós temos o BCP Millenium.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador explica porque é que Mário Lino não deve ceder a pressões

Finalmente o problema da localização do aeroporto está resolvido. Eu sei que levou tempo mas os problemas devem ser resolvidos com ponderação e calma. Se foram precisos mais de dois anos para escolher a Ota era normal que levasse mais três meses para decidir por Alcochete. Mas com paciência chegamos lá. Devemos dar tempo ao tempo, como se costuma dizer. O problema que temos agora é o que é que fazemos com o ministro Mário Lino. Toda a gente, enfim, toda a gente da oposição acha que o homem se deve demitir. Sócrates e o resto da sua maioria acham que não. Mais uma vez estou de acordo com o Sr. primeiro-ministro. Lino não fez mais que ser a cara da vontade do Governo. Pode castigar-se uma pessoa por executar uma decisão política que o ultrapassa? Claro que não. Da mesma maneira que seria ridículo exigir a Sócrates que nomeasse Francisco Van Zeller, o homem que deu a cara pelo projecto de Alcochete, como Ministro das Obras Públicas. Embora, diga-se de passagem, o merecesse. Mas nada disto tem que haver com o mérito ou desmérito das pessoas. Isto só tem a haver com política. Por isso, há apenas uma solução para que o leal Mário Lino fique onde está e não seja despromovido para um ministério que ninguém sabe para que serve, como por exemplo, o Ministério do Ambiente. A solução é mudar os lugares de nome. A Ota passa a chamar-se Alcochete e Alcochete, a partir de agora, chama-se Ota. Assim, a palavra de Mário Lino não seria posta em causa. Julgo que se trata da decisão mais sensata. Se tal não acontecer e Mário Lino apresentar irresponsavelmente a sua demissão, esperemos que o Governo em bloco, por lealdade, não o acompanhe. Só um herói basta-nos.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador informa que o problema dos dejectos dos presos está em vias de resolução

Ninguém no seu perfeito juízo, ou mesmo bêbado, pode alguma vez pensar que eu sugira limitar a liberdade de imprensa. Mas, como na vida de todos nós, também há prioridades. Ontem, domingo, na primeira página do Público lia-se, com enorme destaque, o seguinte título: "Portugal ainda tem 656 celas onde reclusos fazem dejectos num balde". Ao lado, num tamanho de letra muito mais pequeno podíamos ler: "Reforma da rede de urgências acentua crise". Eu não tenho, graças a Deus, nenhum problema urgente de saúde. Também não acho que todos os pecados que cometi, embora me possam levar ao inferno, me levem alguma vez à prisão. Dito isto, parece-me razoável supor que sou um leitor não comprometido com as partes interessadas. Daí que me julgue com todo o direito de dizer que pôr como notícia não só de primeira página mas também com o destaque dado pelo Público, que há 656 celas em Portugal onde há ainda baldes para os presos depositar os dejectos, parece-me uma escolha jornalística lamentável. Não porque ache que a existência de baldes seja de menor importância que a crise das urgências, Deus me livre! Mas por uma questão de elegância. Contudo, se por hipótese este problema excrementício fosse inevitavelmente de interesse nacional, julgo que seria muito mais positivo se o Público anunciasse: "Prisioneiros felizes: Portugal apenas tem 656 celas onde os reclusos fazem dejectos num balde". Este tema sim mereceria a primeira página e a crise das urgências podia, certamente, ser relegada à sua insignificância.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Agradecimentos só ao fim-de-semana

Agradeço a menção do Tiago Cavaco, embora ache exagerado que me ponha na categoria de deveres. Gostei da lacónica complexidade. Não sei se fiquei sensibilizado pelas boas-vindas do folhos e confettis ou com a concordância ante a espectacular conjuntura que vive a França. Sei de certeza que admiro a dedicação do Pastoral Portuguesa. Pena que a anagromia não seja uma das profissões mais bem pagas. O silêncio do Arte da Fuga entra na categoria do dever do Tiago Cavaco: um amigável exagero. É bom saber que pelo menos uma pessoa no mundo acha sensata a substituição de Dakar pela mítica cidade russa. Compreendo a admiração do Ricardo por Havana, mas prefiro Buenos Aires. Nuno, che, quando é que jantamos?

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador encontrou a solução para acabar com o terrorismo

Foi com surpresa e não pouca alegria que soube que o Ali Khamenei perdeu a confiança em Mahmoud Ahmadinejad. Para quem não esteja a ligar o nome à pessoa, Khamenei é o Ayatollah supremo do Irão e Ahmadinejad é o Presidente do país. Aquele homenzinho que negava o Holocausto, que queria destruir Israel e que gostava de bombas nucleares, estão a ver? Bem, parece que perdeu a sua condição de menino querido do Ayatollah desde que a posição do Irão contra o mundo começou a enfraquecer e os nativos desse milenar país começaram a ter mais tempo para as coisas que fazemos normalmente como ir à mercearia, pagar o aluguer da casa e as prestações do carro, receber cartas das finanças e do banco e coisas assim, normais. De repente descobriram que a inflação está descontrolada, que não há dinheiro para pagar as contas e que as diversões populares como autoflagelar-se em público, execuções de adúlteras e queimar bandeiras americanas, nada disso está a dar. Acabou-se a ameaça nuclear que mexeu com todos os demónios ocidentais e a festa acabou. É um pouco a versão jihad daquela história do "se não tens dinheiro, não tens vícios". A lição que devemos tirar deste caso é que cada vez que um país se armar em bom, do tipo vou ter a bomba atómica, tenho suicidas que me farto e coisas assim, devemos ignorá-los e deixar que chegue o fim de mês. Mais nada. Eles lá se arranjam sozinhos. As casas, as tendas, os camelos, os desertos, a fusão nuclear... os bancos, esses impolutos defensores da paz, ficam com tudo.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador aconselha o povo americano a ir para os copos

Os Estados Unidos estão a viver uma festa eleitoral com quase duas eleições por semana também chamadas caucus. É engraçado ouvir a palavra "caucus", que se pronuncia "kôkes", em tudo quanto é notícia. Na verdade não interessa como se pronuncia caucus porque como vem do latim não vão ser agora os anglo-saxões que nos ensinam a pronúncia. Caucus significa hoje em dia "um encontro de habitantes de uma comunidade de um determinado partido para escolher um representante". O mais engraçado é que o significado original de "caucus" era copo ou recipiente para beber. O que me faz pensar que o primeiro caucus deve ter começado algures no passado com uma bebedeira em que foi escolhido um otário para ir em representação da aldeia implorar a um senhor feudal que deixasse de exigir as virgens locais, ou qualquer coisa desse género. O tal otário nunca mais deve ter regressado. A partir desse momento, sempre que se escolhia alguém para fazer uma tarefa ingrata, a malta dizia “embora fazer um caucus” quem é como quem diz "vamos para os copos" e lá iam todos contentes ao bar da aldeia eleger o gajo. O tempo passou, as obrigações cívicas mudaram mas os caucusses sobreviveram. Já não se embebedam nem têm de suplicar pelas virgens ao senhor feudal, mas os cidadãos continuam a ter de escolher alguém que os represente. Hoje um caucus é uma coisa civilizada e abstémia. O problema talvez seja que se tenham desviado da tradição e que seja uma cerimónia abstémia. É preciso não esquecer que estavam sóbrios quando escolheram gente como Jimmy Carter e o actual Bush. Se calhar, voltando à tradição do caucus, com os copos, este ano a escolha possa ser mais acertada.

Adenda: este texto é uma homenagem ao clássico da blogosfera Etimologia hebdomadária.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador fala, resignado, sobre o Tratado de Lisboa

Ao contrário da promessa eleitoral, o primeiro-ministro José Sócrates decidiu propor a ratificação do Tratado de Lisboa por via parlamentar. Toda a gente, sobretudo a oposição, ficou escandalizada. Mas ficaram escandalizados porquê? Assim parece que todos os anteriores governos sempre cumpriram as promessas feitas. Ou, para não ir mais longe, nenhum de nós sequer alguma vez mentiu ou desobedeceu aos pais. Penso que devemos estar gratos a José Sócrates por nos ter poupado semanas de debate estéreis e incompreensíveis e, ainda por cima, irrelevantes para a nossa condição de eleitores. Não conheço uma única pessoa que tenha mudado a sua intenção de voto por causa dos debates ou das supostas sessões de esclarecimento. Alguém se imagina a ler o calhamaço do Tratado de Lisboa para formar uma opinião própria? Sejamos sinceros. Se fosse convocado o Referendo, teríamos votado a favor ou contra o Tratado por todas as razões possíveis entre quais nenhuma incluiria o conteúdo do próprio Tratado. Teríamos querido apenas confirmar ou defenestrar o governo. Portugueses, não promovam o voto neurótico nem encoberto. Sócrates foi corajoso. Se no futuro o Tratado se revelar um desastre do tamanho da Europa, todos saberemos de quem é a culpa e não será nossa. Nem sequer de Sócrates. Ou haverá alguém na sala, ou na Assembleia da República ou no Governo, com a mania das grandezas?

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador não percebe de economia nem de finanças

Parece que finalmente o LNEC entregou o estudo sobre o novo aeroporto de Lisboa e aconselha Alcochete. Por mim, tudo bem. Sempre achei a alternativa da OTA, como é que posso dizer isto em poucas palavras? Longe. Sim, é isso: a Ota é longe e os táxis estão caros. Eu sei que há outras cidades que têm os aeroportos longe como Paris, Londres, Tóquio… mas não temos de andar a imitar tudo o que se faz lá fora. Também admito que o Governo para querer ser rápido nas suas decisões até tenha decidido construi-lo na Ota para despachar. Isto não é bom mas não seria a primeira vez que alguém faz um aeroporto para despachar. Mas o que me surpreendeu mesmo foi que agora parece que o Ministério de Economia prefere, por questões económicas, que seja feito na Ota e o Ministério de Finanças, por questões financeiras, aconselha que o aeroporto seja em Alcochete. Para já, nunca percebi muito bem porque é que Finanças e Economia devem ter dois ministérios diferentes. A menos que seja uma representação institucional da nossa vida. Eu explico. O Ministério das Finanças é como o Multibanco e o Ministério de Economia é como o nosso cartão de crédito. Eu não conheço ninguém que se tenha suicidado por causa do Multibanco.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador sugere uma alternativa ao Lisboa-Dakar

O rali Lisboa-Dakar foi cancelado e a empresa responsável pela organização vai devolver perto 21 milhões de euros aos 570 participantes. Para todos, claro. Não a cada um dos participantes. Parece muito dinheiro mas tudo isto é relativo. Em termos futebolísticos, 21 milhões de euros não chegam para comprar uma perna do Ronaldo. Mas seriam suficientes para que Angelina Jolie fizesse o papel de Soraia Chaves no filme Call Girl. Por outro lado acho que os organizadores do Lisboa-Dakar, embora não duvide de que sejam boas pessoas, não lêem jornais. Ou será que julgam que a Al-Qaeda, sempre que há um rali, cessa as suas actividades? Reparem que, neste momento, África e o Próximo Oriente não estão a propriamente competir para o Nobel da Paz. É preciso encontrar alternativas. A América do Sul não me parece uma boa ideia. A Colômbia tem as FARC e muita experiência a fazer reféns. A Bolívia, que seria perfeita para esta rapaziada automobilística que gosta de sofrer, está à beira de uma guerra civil. No Brasil só se fosse para andar às voltas de Brasília. O Chile é bom, mais agora tem um vulcão em erupção. Além do mais, fazer a partida desde Lisboa seria pouco natural. Resta à rapaziada do João Lagos olhar para Leste. Lisboa-Vladivostok soa-me bem. É só ir em direcção a Berlim. Depois à direita direcção Moscovo. Sempre em frente. Quando chegar à Sibéria, outra vez à direita, até chegar ao mar do Japão. Não há que enganar.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Agradecimento

Obrigado maradó pelas tuas boas-vindas. Gostava só de esclarecer que os preços mencionados para dar uma voltinha eco-turística são mesmo para eco-turistas. Pode-se fazer de borla se prescindires da voltinha no barco, que aliás costuma ser decepcionante. As orcas, que em castelhano se chamam orcas e que se pronuncia, ouve bem, orcas, raras vezes colaboram e as baleias ainda menos. É sempre melhor ver pela televisão. Ou, já agora, ouvir pela rádio.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador não suporta algumas associações cívicas

Tudo começou em 2005. O Ministério da Educação, no seguimento de uma proposta da autoria da Associação Cívica República e Laicidade, ordenou que as escolas retirassem os crucifixos das salas de aula. O Governo justificou a decisão invocando "o respeito pela diferença". Esta mesma associação fez um pedido em Junho passado ao Ministério da Saúde para que igual medida fosse aplicada nos hospitais. Agora, chegado o novo ano, outra vez o Ministério da Educação recomenda que não se denominem os estabelecimentos de ensino com nomes religiosos. Eu estou verdadeiramente impressionado com a actividade desta Associação Cívica República e Laicidade. Não me surpreendia nada que tivesse ligações a outras entidades de igual actividade frenética em campos de importância fundamental como o uso ou não de colheres de pau, as bolas de Berlim ou o tamanho legal da maçã reineta. Temos gente séria em tudo quanto é sitio. Mas voltando a esta Associação Cívica e super-activa com preocupações que exigem medidas tão drásticas e urgentes de respeito à diferença: porque é que os cristãos têm sempre de pagar as favas nas sociedades maioritariamente cristãs? Porque será que este tipo de associações estão na Europa e não no Sudão ou no Iraque a exigir pelo direito à diferença? Se querem pôr crucifixos ou pôr nomes de santos às escolas, deixem as pessoas em paz. Um santo a mais numa escola não faz mal a ninguém.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador encontrou uma solução para evitar discrepâncias entre os órgãos de soberania

Suponho que, por uma obrigação protocolar o primeiro-ministro tem de fazer o discurso natalício e o Sr. Presidente a mensagem de ano novo. Como todos sabem, ouvimos um discurso optimista no Natal e um pessimista no dia 1 de Janeiro. Eu acho que está mal. É sabido que o primeiro a falar, ao contrário daquele que dá o primeiro soco, tem sempre mais possibilidades de ir parar às lonas. E foi o que aconteceu. Em defesa do nosso primeiro-ministro só posso dizer que o Sr. Presidente teve mais de cinco dias para preparar o seu discurso. Acho isto uma injustiça. Se continuar a ser sempre assim, um primeiro-ministro nunca tem a menor hipótese contra um Presidente. Imagino Cavaco na noite de 24 de Dezembro em reunião com os seus assessores: "O défice abaixo dos 3%? Novas oportunidades? Ó Mané, traz-me o dossier do orçamento! Ó Tó! Faz-me uma piada que rime com oportunidades. Espera lá que já te conto!" Não, isso não pode ser. Para não se repetirem estas malandrices entre os órgãos de soberania, sugiro que se encontre uma solução que defenda a verdade desportiva. Ambos os órgãos de soberania, no dia 20 de Dezembro, entregam os sobrescritos com os discursos que deverão ser lidos no Natal e no ano novo a uma entidade imparcial e respeitável como o Bastonário da Ordem dos Advogados, ou, se quiserem, a um organismo internacional – pode ser a FIFA. Os sobrescritos seriam abertos na presença de um representante do Governo Civil que certificaria a inviolabilidade do segredo do discurso. Desta forma o presidente não teria a vantagem de ser o último a falar e o primeiro-ministro poderia ler um discurso optimista, sem o problema de ser posto em causa.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador comenta as novas tendências imobiliárias

Um inquérito feito pela Eurosondagem e a Escola Superior de Actividades imobiliárias (ESAI) chegou à conclusão de que quase metade dos portugueses gostaria de comprar uma casa já totalmente equipada, quero dizer com móveis e decoração incluídos. Eu percebo que sendo os empréstimos para o consumo tão estupidamente altos, dava jeito comprar uma casa com tudo incorporado. Se fosse possível até com lençóis postos na cama. No entanto, a explicação não é só essa. Parece que segundo Manuel Ferreira dos Anjos, um responsável da ESAI, os portugueses estão habituados ou pelo menos gostam das decorações dos aldeamentos turísticos. Eu peço desculpas mas não posso acreditar no que disse o Manuel. Quando alugamos uma casa para férias os parâmetros estéticos são relativos: tudo o que seja diferente e, pelos menos, igual ou ligeiramente mais confortável do que a nossa casa é o máximo. Outro pormenor a ter em conta é que, ao contrário da casa no aldeamento turístico, a nossa casa não fica perto do mar, nem sequer tem vista para o mar. O mais parecido com o mar são os camarões da cervejaria perto da estação do comboio. E, sobretudo, onde a nossa casa fica, não pululam estrangeiras em biquini a fazer compras na mercearia do Sr. António. Senhores da sondagem, não delirem. Se os portugueses gostassem mesmo de comprar uma casa com tudo incluído seria só porque não têm pais ricos nem bancos que os ajudem.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O Senhor Comentador explica porque é que fumar e conduzir são a mesma coisa

Este ano a lei de proibição de fumar nos lugares públicos entrou em força. Lei com a qual não concordo pela simples razão de que se eu fosse proprietário de uma tasca, por exemplo, acharia que era direito meu escolher os meus clientes. Não gosto de fumadores, então não permito que fumem e o contrário também faz sentido. A saúde pública não é para aqui chamada. Esta é apenas uma questão de propriedade privada e de deveres e garantias individuais. Mas pronto, a lei já está feita e o sindicato de fumadores não fez nada contra. Agora quando soube que, ainda por cima, o tabaco vai aumentar e não vai ser pouco, uma luz surgiu na minha cabeça. Espera lá, disse cá para mim. Dificultam o consumo e ainda encarecem o produto? E foi assim que percebi tudo. Os carros fazem mal ao ambiente e à saúde pública e estão cada vez mais caros, certo? O imposto automotor também vai aumentar. As portagens também. A gasolina, bem, nem vale a pena lembrar-vos a que preço está agora e nem queiram saber a que preço estará ao fim do ano, certo? Isto é encarecer o produto. Estacionar em Lisboa custa uma fortuna se concretizar a proeza de arranjar um lugar. O objectivo é desencorajar as pessoas a utilizar o carro, percebem? Estão a fazer aos fumadores o que já fazem aos automobilistas. O objectivo final é muito claro para mim. Comprar poucos cigarros e fumar só em casa. Comprar um carro e deixá-lo na garagem. É um plano genial para resolver os problemas do ambiente.