Toda a gente julga saber qual é a profissão mais velha do mundo. Mas é óbvio que antes que se profissionalizem as tais meninas, alguém deve ter ganho mais dinheiro do que todos os outros. Esse primeiro gestor com mais dinheiro deve ter sido o primeiro cliente da primeira menina que iniciou a tal profissão que se baptizou como a actividade lucrativa mais velha da história. Quero dizer com isto que o primeiro troglodita, que foi o primeiro cliente da primeira menina que inventou a profissão mais velha do mundo, ganhava mais que todos outros colegas trogloditas. Esta foi sem dúvida nenhuma a primeira desigualdade salarial registada nos primórdios da humanidade. E como naquela altura não havia carros nem cavernas com piscinas, deve também ter sido o primeiro sinal ostensivo de riqueza. Esta conclusão leva-nos a compreender que a desigualdade salarial é pelo menos umas horas mais velha que a profissão mais velha do mundo. Foi este pormenor que o Bloco de Esquerda não teve em conta na sua simpática exposição sobre os salários dos trabalhadores no Parlamento. A intervenção audiovisual que Francisco Louçã fez ontem na Assembleia da República foi simpática. Para ilustrar a diferencia salarial que existe entre um gestor e um operário, levou duas imagens. A do gestor era sensivelmente maior do que a imagem do operário, muito pequenina. Louçã explicou que era exactamente trinta vezes maior. Foi acusado de demagogia. Eu prefiro acusá-lo de pedagogia. Pedagogia é o ensino dado às crianças. Se Louçã quisesse realmente explicar a desigualdade salarial aos adultos, não teria sido tão infantil e podia mesmo ter escolhido uma imagem de desigualdade mais adulta. Por exemplo, mostrando quantos charutos cubanos (ou meninas brasileiras) um operário pode comprar com o seu salário e quantos charutos (ou meninas ucranianas) pode adquirir um gestor. Julgo que teria sido mais eloquente, mas sobretudo mais sério. Fora isto, tudo bem.
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Textos de Carlos Quevedo lidos diariamente pelo actor Vitor Emanuel na Antena Um, antes das sete da tarde.
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