Foi notícia de primeira página que o ex-presidente Bill Clinton adormeceu no acto evocativo da morte de Martin Luther King. O escândalo pertence mais ao mundo das sondagens eleitorais do que ao acto em si. Quem não adormece durante uma dissertação panegírica? Nem mesmo que esta seja dita pelo próprio filho do comemorado, o que, por sinal, foi o caso. O curioso desta história é a sobrevalorização que o incidente teve nas mãos dos génios que profetizam os resultados eleitorais. Hillary Clinton, por causa da soneca do Bill, pode perder os votos de muitos afro-americanos, que é como chamam na América aos pretos. Julgo mais provável que, se for para perder votos, estes serão os votos dos branquinhos que acham terrível adormecer enquanto se fala dum preto morto mas que dizem que é apenas má educação se alguém passa pelas brasas quando o morto é branco. É estúpido pensar que adormecer é um acto racista. Bill Clinton estava cansado. Coisa perdoável a todo ser humano. E ainda mais perdoável a um homem cujo apetite sexual é inversamente proporcional às suas capacidades cardíacas. Por outro lado, se eu estivesse enganado, sejamos realistas: o eleitorado afro-americano não chega aos 12%. Digamos que, no melhor dos casos, 8% votam. Desses 8%, pelo menos 3% votam sempre no partido republicano seja quem for o branco que se candidate. Dos 5% que restam, só 2% julgam que Obama é preto. Depois da soneca do marido, Hillary podia perder, no pior dos casos, metade desses 3%. O que é que passa pela cabeça desse um e meio por cento para achar que pode decidir quem vai ser o futuro Presidente dos Estados Unidos?
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Textos de Carlos Quevedo lidos diariamente pelo actor Vitor Emanuel na Antena Um, antes das sete da tarde.
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1 comentário:
creio ter percebido: a democracia é uma falácia. porque, afinal, não é a maioria que decide mas sim aquela minoria que, entre uma minoria e outra minoria, torna uma delas maioria. estarei a ser demagógica, matematicamente analfabeta, ou apenas a ficar com sono?
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